Jornalistas esportivos: trabalho x paixão

O futebol é o esporte que une as pessoas, desperta paixões e também o instinto mais primitivo do ser humano. A competitividade transborda dos gramados alcançando as torcidas que nem sempre ficam felizes com os resultados, gerando confrontos violentos e muitas vezes fatais. 

No meio disso tudo, os jornalistas esportivos são os responsáveis por levar informações e fatos para os torcedores. Alguns revelam seu time do coração e, devido a delicadeza do tema, suas opiniões ou informações podem ser levadas a sério ou não. Em um lugar onde a imparcialidade necessita reinar, o clube para o qual torce influencia na forma em que comunica? E por qual motivo a grande maioria dos comunicadores prefere deixar seu time oculto? É isso o que tentamos descobrir. 

A maioria esmagadora prefere por deixar seu clube de infância, e logicamente do coração, de forma oculta. Porém, vemos alguns casos de jornalistas que revelam ou dizem que clube torcem e também em grande maioria, acabam dizendo que o amor pelo clube acabou e só existe a paixão pela profissão.  Isso ainda gera bastante discussão como o recente caso de Ivan Moré, apresentador do Globo Esporte, que acabou revelando que torce para o Corinthians em um momento de emoção, comentando sobre a morte de seu pai. 

Diferente de alguns casos, ele acabou não sendo linchado virtualmente, mas acabou iniciando a discussão do porquê jornalistas não revelam seu time do coração e a razão disso ser um tabu. Marcelo Barreto, apresentador do programa Redação SporTV, citou o medo (das torcidas organizadas) e uma ‘americanização’ do jornalismo brasileiro a partir dos anos 70 em um debate realizado no programa. Neste debate também foram citadas as mesas redondas de antigamente, onde cada jornalista representava um time, como Nelson Rodrigues que torcia para o Fluminense. Além de Nelson, víamos casos como o de Ary Barroso, que chegou a participar ativamente de contratações do Flamengo, clube que torcia. 

Para entendermos melhor como funciona ou como é o pensamento de cada um e respondermos as perguntas do início, entrevistamos seis jornalistas que trabalham com futebol. 

REVELAR OU NÃO

Bruno Andrade em entrevista com o jogador Lucas Moura, do Tottenham Hotspur. Foto: Arquivo pessoal

Revelar ou não seu time gera muito debate e discussões. O que os próprios jornalistas acham disso? 

Bruno Andrade, correspondente do site Goal em Portugal, diz que revelar o clube que torce não agrega em nada ao seu trabalho: “Particularmente, não vejo necessidade. Infelizmente muitos torcedores não aceitam as críticas que são feitas por jornalistas que torcem (mesmo que de forma respeitosa) para outro clube. Existe uma perseguição muito maldosa, principalmente nas redes sociais. Prefiro ser perseguido por todos, até mesmo pelos torcedores do time do meu coração. Desta forma acabar por existir um equilíbrio. Incomoda mesmo”. 

Por questões de segurança ou até profissional, a repórter e apresentadora do DAZN e do canal Segue o Baile no YouTube, Mariana Fontes, também prefere não falar para qual time torce: “Acho que não precisa, porque principalmente quando você participa de transmissão ou vai pra campo, pode calhar de o time que você vai cobrir no dia ter um problema com o time que você torce. Esse problema pode ser desde a disputa de uma vaga até algo mais grave, e aí você acaba sendo associado aquilo e a torcida confunde e pode te atacar por isso. Então não havendo necessidade acho que não há porque reforçar que você torce pra’quele time. Até mesmo, infelizmente, por questões de segurança a gente tem que pensar nisso”. 

Para Leonardo Baran, repórter que trabalha cobrindo a seleção Brasileira, “o principal motivo é ser verdadeiro e não viver refém!” 

Na era das redes sociais, nem sempre ocultar as preferências da vida particular é viável. “Acredito que seria impossível esconder. Além de ter várias coisas postadas sobre o Flamengo, já que fui blogueira do Flamengo e trabalhei em transmissões da FlaTV e Rádio Nação Rubro-Negra”, diz Luciana Zogaib, narradora da Rádio FERJ e editora do Damas do Esporte.  “Sempre fui torcedora de arquibancada o que faz com que muitos torcedores me conheçam também”. 

Virtudes Sánchez, jornalista espanhola que trabalha para o portal Marca, diz que por aqui o grande motivo para não revelar seu clube do coração se dá pelas acusações e violência: “Acredito que aqui não revelam não só por medo de serem acusados de falta de profissionalismo mas principalmente porque as torcidas no Brasil são apaixonadas e as vezes até perigosas. Já vi torcedor ameaçando repórter na porta do estádio. A realidade é muito diferente. Na Europa tem mais respeito em relação a isso”. 

Marcelo do Ó, narrador do Sistema Globo de Rádio e da RedeTV, também falou que a falta de segurança é um dos principais motivos pelo ocultamento do clube que torce: “Pra quem está no estúdio não tem tanto problema. Mas para um narrador, a primeira questão é essa, de estar sempre no estádio e as pessoas acabam confundindo tudo, acham que você está distorcendo. A segunda é a questão da credibilidade, apesar de achar que está mudando. Essa geração se importa menos com isso do que a minha”. 

E de fato a violência no futebol é outro tópico que também pode ser discutido. Segundo Mauricio Murad, sociólogo que estuda a violência no futebol brasileiro desde os anos 90, cerca de 147 pessoas morreram entre 2009 e 2017 (média de 16 mortes por ano) envolvendo brigas por futebol

Ainda sobre a questão do medo, do Ó respondeu: “Isso era um tabu pra mim. Quando eu entrei na Rádio Globo eu achei até que não podia, que existia alguma proibição, mas não existe. O que tem é um resguardo nosso de falar Eu  no Grupo Globo, não vou ficar dizendo no ar que eu torço para o Corinthians, mas também não vou negar. Isso é uma política que eu defini para mim, nada a ver com a casa”. Baran também falou sobre a questão do medo: “Não, nunca tive. Sempre revelei. Pois neste aspecto sempre me espelhei no Washington Rodrigues. Consagrado comentarista carioca, sempre revelou ser Flamengo e sempre foi respeitado por todos os torcedores”. 

Marcelo, Leonardo, Luciana e Virtudes revelaram seus times sem problemas (Corinthians, Vasco, Flamengo e Real Madrid respectivamente), porém Bruno se resguarda mais: “Revelo apenas em conversas mais privadas, com pessoas de confianças. Porém, o leitor/torcedor que realmente acompanha mais de perto o meu trabalho, principalmente nas redes sociais, certamente tem uma ideia de qual é o meu time do coração”. 

CLUBISMO

Luciana Zogaib em transmissão de jogo no Maracanã. Foto: Arquivo pessoal

O clubismo. Ah, o maldito clubismo… Aquele que interfere em suas ações e às vezes a sensatez passa longe. Como um comunicador lida com isso? Todos disseram que o clubismo sai naturalmente e Luciana chegou até a dizer que não se considera clubista: “Sempre gostei de entender todos os lados das vitórias, derrotas e sempre foi natural. Acabo falando mais do Flamengo por fazer jogos e por estar no ambiente do clube, mas sabendo enxergar de fora pra dentro também”. 

Marcelo também respondeu: “Quando eu comecei a narrar e fazer jogo do Corinthians direto e no Pacaembu principalmente, onde eu cresci vendo e ouvindo e alimentando esse desejo de trabalhar com o que eu trabalho hoje, eu gritava gol do jeito que eu gritava na arquibancada. Porque aquela emoção vem, quando sai o gol e você tá ali, junto ao fato de você estar fazendo o que sempre sonhou no lugar que você sempre esteve. Junta tudo e fica meio over. No começo é impossível você separar. Mas na hora do gol, como o gol é meio visceral, não dava pra separar. Então o gol do Corinthians era diferente. Mas com o tempo de trabalho, a maturidade, você fica mais adulto, você começa a olhar as coisas de uma maneira mais profissional você consegue tirar isso”. 

“Fácil e natural”, foi o que relatou Bruno sobre o clubismo: “Hoje, digo tranquilamente que não sou um torcedor fanático. Já fui, admito. Não sou mais. O jornalismo te ensina muitas coisas, entre elas a necessidade de ser imparcial. Alguns aprendem, outros não”. Já Baran fala que o clubismo some sem você perceber: “Algo completamente natural. Se eu estou cobrindo o Flamengo, passo a acompanhar mais o Flamengo e me interessar mais pelas coisas do Flamengo e acompanhar os jogos do Flamengo, sem tempo para ‘me preocupar’ com o Vasco”. 

Para a jornalista espanhola, Virtudes, deixar o clubismo não foi “nada difícil. Porque eu não sou o que a gente chama na Espanha de “forofa”, algo assim como clubista. Jornalista necessariamente tem que ser diferente de torcedor, você não pode entrar num campo como na arquibancada, obviamente”. 

E narrar gol de algum rival ou cobri-lo? Todos, com exceção de Luciana, disseram que não houve dificuldade alguma: “Já cobri muito todos os rivais, pois também já trabalhei em rádio web e atualmente narro jogos dos times do Rio de Janeiro na Rádio FERJ. Faz parte e eu gosto, pois fico conhecendo bem todos os adversários. É sempre difícil narrar gol do time rival em jogo contra, mas faz parte do trabalho e tenho encarado super bem”, disse a narradora. 

Já Marcelo destacou que foi difícil esconder os primeiros gols do Corinthians: “Comecei a narrar em 2004, e o primeiro jogo que eu narrei foi um Corinthians x Ponte Preta. Meu primeiro título foi em 2005 e aí eu dei uma exagerada. Eu era muito garoto, tinha 25 anos e aí você não tem maturidade pra segurar essa onda”. 

Bruno Andrade, nos tempos de LANCE! também trabalhou na cobertura de um time rival: “A sensação? Espetacular. Digo isso porque o clube tem uma estrutura espetacular de trabalho e o relacionamento com a assessoria de imprensa era de alto nível. Os jornalistas são sempre bem tratados ali. Além disso, por se tratar de um grande de ponta, a visibilidade do que eu escrevia também era grande”. 

E apesar de ainda existir resquícios da paixão sobre um clube do coração, quando você se torna um jornalista o profissionalismo sempre vem à frente. “Há muito tempo que eu torço mais pra mim do que pro meu time. Eu torço pro meu trabalho! Eu preciso fazer um bom trabalho, isso é muito mais importante do que torcer pra um time de futebol. Eu fazer uma boa reportagem com o Flamengo, falar a verdade, ser imparcial nos lances fundamentais, não vai mudar a história de um jogo”, disse Leonardo Baran. 

Como Baran, Mari também destacou o profissionalismo: “Hoje com o meu canal, o conteúdo exclusivo que eu produzo pro DAZN, eu preciso frequentar todos os clubes. Tem outro fator também: a gente torce e admira quando tá longe. Quando você começa a estar muito envolvido diretamente o sentimento é outro. Não é mais aquela paixão e não tem mais aquele encanto que a distância acaba proporcionando. Você acaba sendo mais racional. Tem um carinho por causa da história, é claro, mas não protege de algum jeito ou é tendencioso ali você tá na condição de profissional”. 

CENÁRIO APOCALÍPTICO?

Leonardo Baran em uma de suas coberturas da Seleção Brasileira. Foto: Arquivo pessoal

Ao longo do texto falamos bastante da dificuldade e dos pesares em revelar o clube por qual é apaixonado, mas será que o assunto ainda é tão delicado assim? 

De positivo, Leonardo Baran destaca poder responder a quem pergunta: “Se alguém me pergunta, eu falo. Ponto positivo é você responder aos seus fãs”. Bruno Andrade destacou a leveza que se deve sentir: “Certamente aquele que revela o seu time do coração se sente mais livre, menos sufocado… É uma decisão muito pessoal. Eu respeito”. 

As mulheres também nos trouxeram pontos super interessantes. Mariana falou sobre não ter sua opinião relativizada: “Acho que você não se indispor com o torcedor. Ter sua opinião resguardada e não relativizada como ao revelar o time que torce”. Já  Zogaib disse que é preciso coragem para querer narrar jogo e revelar o time sendo mulher: “Tem que ter personalidade para fazer esse tipo de coisa”. Virtudes falou sobre “tirar o estresse de ter que esconder algo que não faz mal a ninguém”. 

A experiência de ser torcedor pode e deve agregar bastante no jornalismo esportivo. Marcelo do Ó falou disso: “A gente só vira jornalista esportivo porque acompanha futebol. Se acompanha futebol é porque tinha um time. Se você tinha ou tem um time, você entende a paixão do torcedor e pra gente que tem que transmitir isso, precisa sentir isso. Porque de tanto você trabalhar, você começa a conhecer pessoas e torcer por elas e não pelos clubes”. 

E de negativo? Leo e Bruno destacaram a perseguição: “Muitos torcedores não entendem e acabam te analisando erradamente. Mas tenho muitos torcedores rivais que me respeitam muito.  Isso vale mais!”, disse Baran. Já o correspondente destacou o seguinte: “Como disse acima, revelar o time do coração é a munição que faltava para o torcedor revoltado nunca mais sair do seu pé”. Por fim, Marcelo falou sobre o cuidado que precisa ter: “Você se policia mais, para não puxar para lado nenhum”. 

E para as mulheres? O que de mais negativo pode ter?Luciana destacou o preconceito. Já Mari e Virtudes falaram sobre as análises erradas de opiniões: “Você não ter sua opinião protegida ou ela analisada de forma isolada. Ter sua opinião relativizada. Normalmente o torcedor pega seu time pelo tom de crítica, não é nem quando você é tendencioso. É por aquela crítica mais ácida que ele consegue pescar qual é o seu time. E quando você falar de outro, ele pode relativizar sua opinião. Falar que você só tá dizendo isso porque torce pra tal time, quando essa, na verdade, seria sua opinião torcendo pra qualquer time”, disse Mariana. “Sempre tem alguém que te acusa de opinar de alguma forma porque você torce por esse time mas nada demais”, completou a periodista espanhola. 

DÉCADAS DE TABU. PORQUÊ?

Marcelo do Ó em narração do jogo entre Cardiff e Crystal Palace pela rodada 37 da Premier League 2018/19. Foto: Gilmar Casimiro.

Antigamente (anos 60, 70), os jornalistas esportivos não tinham tanto receio em revelar o clube para qual torcia. Nas primeiras mesas redondas, por exemplo, cada comentarista ou integrante representava um time. Por que isso mudou? 

Marcelo do Ó destacou a profissionalização e que o esporte se tornou uma forma de entretenimento: “Acho que mudou porque aquela época era uma época do futebol amador. Depois que o Brasil foi campeão do Mundo pela primeira vez em 1958, as coisas começaram a mudar. Então o rádio passou a ser mais profissional e naquela época era o que a TV é hoje e o que a internet está se tornando.  Só que com o tempo isso também foi mudando e se tornando um produto e quando vira um produto não se pode mais tratar de forma amadora, a não ser que seja proposital. Dos anos 70 até pouco tempo era o jornalismo esportivo. Hoje é o entretenimento esportivo. Então mudou o foco, mudou tudo”. 

A violência virou tópico novamente das falas através de Mariana: “Acho que as pessoas estão muito violentas no discurso e nas atitudes. Nas redes sociais, uma pessoa não concorda com a sua opinião e te ataca. Às vezes até na rua, e sendo mulher a gente está mais vulnerável. Era pra ser uma coisa mais leve, porque se trata de uma paixão nacional e é muito ruim quando você tem medo de falar de coração aberto. A gente vê grandes jornalistas até saindo de redes sociais o que é uma grande perda”. 

E claro que as redes sociais também entrariam em pauta. Luciana e Bruno citam o maior acesso dos torcedores aos jornalistas, diferente de antigamente: “Creio que antigamente as pessoas não tinham tanto canal aberto como tem hoje em relação aos profissionais de mídia. Os tempos de tolerância também eram outros. Hoje não revelar o time é um caminho para se preservar”, disse a narradora. O correspondente completou: “Porque antigamente não havia internet e, consequentemente, as redes sociais. Tudo isso deu voz aos perseguidores de plantão”. 

ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS…

Virtudes Sánchez em jogo no estádio Wanda Metropolitano, do Atlético de Madrid. Foto: Arquivo pessoal.

Falamos só de Brasil, porém o futebol é o esporte mais acompanhado no mundo todo. Como a questão do time do coração é por lá? Bruno Andrade, que mora em Portugal, e Virtudes Sánchez, jornalista espanhola, nos ajudaram a responder essa questão. 

Virtudes nos relatou brevemente que na Espanha, essa questão do time do coração é mais leve do que por aqui. Já Bruno disse que há um certo exagero por parte dos jornalistas em Portugal, mas que a perseguição é a mesma: “Aqui na Europa os jornalistas são muito mais abertos quanto a isso. Muito deles, aliás, comemoram gols e vitórias enquanto trabalham dentro do estádio. Ainda não me acostumei com isso, acho um exagero. A perseguição nas redes sociais, no entanto, é a mesma”. 

E claro, perguntamos ao Bruno como é acompanhar o time ou até mesmo o futebol brasileiro morando a quase 8 mil quilômetros de casa: “Eu tento me esforçar para acompanhar o máximo possível, seja o meu clube ou os outros. Mas é muito difícil. Correia do trabalho, fuso horário, etc. Certamente essa distância tira cada vez mais o meu interesse pelo meu clube. A paixão está intacta, mas o interesse vem diminuindo”. 

…E OS GENÊROS

Mariana Fontes em transmissão da Recopa Sul-Americana entre Athletico e River Plate. Foto: Arquivo pessoal

Cada vez mais as mulheres vão conseguindo seu espaço na sociedade, e no jornalismo não seria diferente. No futebol mulheres chegaram a ser proibidas de praticarem o esporte, e hoje a detentora de mais prêmios de melhor jogador (a) do mundo, é uma mulher. Voltando ao jornalismo, as mulheres, ainda sofrem bastante com o preconceito e com o assédio, como em casos recentes mais famosos com as jornalistas Julia Guimarães, Karine Alves e Bruna Dealtry. Daí, a importância de movimentos como o Deixa Ela Trabalhar, organizado em 2018 logo após estes casos. Perguntamos as mulheres entrevistadas quais as dificuldades de lidar em um espaço amplamente dominado por homens, como é o jornalismo esportivo. 

“A gente ainda enfrenta muito preconceito, apesar de já se ver uma melhora e uma evolução. As equipes na rua normalmente são compostas por homens e quando se tem mulher na equipe, são mulheres do vídeo o que dá a entender que ela só tá ali como a estampa do vídeo. Quando você vê equipes de externo, o número de mulheres ainda é muito pequeno. A gente tem muito essa dificuldade, apesar de uma melhora”, disse Mariana. 

Para Luciana, a “principal dificuldade é o fator cultural, a falta de experiencia e oportunidades para o desenvolvimento da carreira. Muitas pessoas já prejulgam ou escutam com olhar muito mais crítico o trabalho, mas isso encaro com naturalidade. Para vencer essa barreira não adianta querer impor e nem mesmo bater de frente ou se desestimular. É preciso persistência para evoluir e mostrar valor”. A narradora falou também sobre mulheres revelarem o time e se isso pode influenciar: “Não creio que isso esteja ligado ao respeito. Quem é desrespeitoso vai sempre encontrar maneiras de ser, e também é assim com os homens. Ganharei respeito com boas opiniões e com excelência no trabalho”. 

Mari também opinou sobre a relação time x jornalista mulher: “Se considerarmos um deslize (revelar o time), o que para mim não tem problema algum, vai ser só mais um motivo para pegarem no pé. Qualquer erro de uma mulher hoje ainda é punido com muito mais rigor do que o cometido por um homem. Então se revelar o time for uma decisão errada, não tenho nenhuma dúvida que vai ser só mais um motivo para pegarem no pé. Quando a mulher é atacada, ela é atacada por causa da opinião, porque revelou o time, porque errou. E todo mundo erra, qual é o problema? Mas primeiramente porque é mulher e está numa condição de vulnerabilidade ou de fragilidade que acaba fazendo com que as pessoas a vejam em condição inferior. O que não é verdade porque tem excelentes jornalistas na rua, emitindo opinião e revelando o time como os homens”. 

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA!

Marcelo do Ó em transmissão no Allianz Parque. Foto: Reprodução.

Para fecharmos com o astral lá no alto, pedimos aos jornalistas que contassem histórias curiosas que viveram, em trabalho, em relação ao time do coração.  

Começamos por Marcelo do Ó: “Eu passei por um aperto uma vez, no começo da carreira. Era um Corinthians e Vasco no Pacaembu, e a gente narrava nas cabines do interior que ficava do outro lado onde ficavam as rádios dos visitantes porque eu estava narrando para Pirassununga. Ou seja, era uma transmissão pro torcedor do Corinthians. Aí o Vasco fez um gol e eu narrei o gol igual, e os caras da torcida (do Corinthians) ouviram meu grito e um desses caras simplesmente jogou um chinelo em mim. Tive que dar uma de Matrix, o chinelo passou e eu entrei debaixo da mesa pra continuar gritando o gol e não perder o pique”. 

Bruno Andrade também falou de uma história do seu início: “Tenho diversas histórias. A mais marcante foi quando eu, ainda no meu início na profissão, estive frente a frente a primeira vez com um grande ídolo. Grande ídolo mesmo. Eu, no dia anterior, havia dado uma nota baixa para ele no jornal, por causa de uma atuação ruim num jogo do Campeonato Paulista. No dia seguinte, durante o treino, ele passou por mim e disse: “Nota cinco? Está de sacanagem!”. Falou isso e saiu correndo para dar uma volta no campo. Eu tremi, fiquei sem reação. Pensava: “Como ele sabe que fui eu?”. Então ele passou por mim outra vez e disse rapidamente: “Estou brincando. A nota cinco foi até muito alta. Merecia mesmo”. Riu e foi embora. Foi ali que percebi que os jogadores de futebol são malucos com as notas dos jornais, acompanham tudo”. 

Já Leonardo Baran contou uma de quando ainda não era repórter, nos anos 90: “Eu era assessor de imprensa do América e vibrei com um gol do América, contra o Vasco. O jogo foi no estádio de Moça Bonita. Era melhor pro meu trabalho a vitória do America. Isso foi em meados da década de 90. Acho que 96.” 

Luciano Zogaib preferiu falar um pouco da sua trajetória: “Vivi muitas coisas legais cobrindo o Fla nas transmissões dentro do campo como repórter na Radio Web RPC e também na Rádio Nação Rubro-Negra, onde as transmissões eram totalmente voltadas para o torcedor do Flamengo e tive a oportunidade de conhecer vários comediantes e cantores rubro-negros que transmitiram conosco numa sintonia e alegria sem tamanho. Estou trabalhando para que o projeto retorne nesse formato e eu possa reviver esses momentos, quem sabe com um título importante. Narrando, o melhor momento foi a conquista do Carioca pelo Fla já no primeiro campeonato integralmente narrado por mim”. 

Por fim, Mariana Fontes contou um pouco sobre seu filho e a relação com o futebol: “O meu filho tem 3 anos e a gente é muito apaixonado por esporte. Ele escolheu torcer para o time do meu marido e eu acabei não influenciando tanto, até porque quando eu estou em estádio, estou trabalhando e eu não teria a oportunidade que meu marido tem de levar para torcer. Também achei um pouco egoísta da minha parte forçar essa barra. E o curioso é que muita gente acha que eu torço para o mesmo time que ele. Ele adora ir pro estádio, vai uniformizado, tem vários uniformes, já até entrou em campo. E muita gente começou a me atacar por isso, inclusive torcedores do time que eu torço falando que eu só dei tal opinião porque torço pro time do filho sendo que torço para o mesmo time que ele”.

2 comentários em “Jornalistas esportivos: trabalho x paixão

  1. Arrasou menino tem uma escrita maravilhosa vai ser um ótimo Jornalista se não já é, que Deus te abençoe mais ainda torço por você!

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  2. Matéria foda!!!! Parabéns!

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